De acordo com dados estatísticos da Guarda Nacional Republicana e da Policia de Segurança Pública, a noite de vinte e quatro para vinte e cinco de Dezembro é aquela que regista maior número de ocorrências relativas a violência doméstica. E aqui está a minha revolta. Isso nunca se passou na minha família. Nunca me lembro de um Natal que tivesse corrido mal ou que houvesse discussões. Mas quem somos nós a menos do que os outros? Este ano quero porrada de meia-noite. E à meia-noite especialmente, quero um ambiente tão pesado que se possa cortar à faca. E que essa mesma faca, degole pelo menos três familiares meus. E de preferência que eu seja o primeiro. Passar a meia-noite a esvair-me em sangue pelas guelras é o que eu entendo como um Natal a sério. Já estou a imaginar. Vou entrar na sala e dou com uma cadeira nos cornos da minha tia. Tufa. Só para não ter a mania que é diferente. Lá por ser a única a passar dos oitenta anos não faz dela um ser superior.
Mas não são só os velhos que contam. O que seria do Natal sem as crianças? Não teria alegria nenhuma, não faria algum sentido. Isto é tudo muito lindo desde que as crianças não sejam nossas. Senão é uma trabalheira. Eu adoro ter montes de crianças à minha volta no Natal. Especialmente porque não sou pai delas. Estou para ali a brincar com eles muito bem disposto e quando me farto digo para irem ter com os pais. Claro que os meus primos não têm essa vantagem mas pronto. O sexo não é só coisas boas. Os métodos contraceptivos não existem só para encher os bolsos às farmacêuticas.
Gosto muito de crianças mas contribuem pouco para a casa. E dão imensa despesa, fazem montes de perguntas e nunca têm tabaco. Pensem nisto quando estiverem no ninho com os vossos.