Ontem à noite desloquei-me ao Campo Pequeno para assistir a uma actuação dos Gogol Bordello. Devo referir de antemão que em relação à banda nada tenho a apontar. Os artistas são realmente bons artistas, animação e cantoria com fartura, tudo bem disposto, uma alegria. O som era uma merda, o que é típico em Portugal, mas isso ainda é o menos. Quem quer ouvir música ouve em casa. A um concerto vai-se por razões distintas. E é mesmo neste ponto que residem as minhas criticas. O que raio foram aquelas pessoas ali fazer?
Ao chegar ao recinto deparei-me com uma serie de situações muito estranhas. Primeiro que tudo estava a ouvir música no Campo Pequeno. A ideia de ali ir sem ser para assistir a touradas é no mínimo estranha. O que eu ali espero encontrar são lides e pegas de caras. E caso haja musica, que seja passe dolbe. Ao observar a arena só me interrogava onde eram os curros e a bancada do director. E olhava espantado para a presença de um palco ali estampado no meio. Um pouco mais distraído e dava por mim aos berros para a plateia a pedir que saíssem dali porque a ganadaria Brito Paes estava a abrir serviço.
E reparem que eu disse gritar para a plateia. Sim, eu fiquei na bancada. Como não conseguimos arranjar bilhetes para a plateia tivemos de ir para a secção de reformados. Há muito concerto em que é preferível estar sentado mas este não era certamente um deles. Parecíamos um grupo de velhas com os casacos a fazer de manta, a ver a juventude aos pulos lá em baixo.
Mas para além de tudo isto, a minha principal revolta prende-se com o ambiente. Que gente era aquela? No meu tempo ir a um concerto era tudo menos aquilo. Muito menos Punk e ainda por cima cigano. Com um nome destes seria de esperar tiroteio e facada nos primeiros dez minutos.
No meu tempo ir a um concerto significava jogar com a vida. Punk? Vocês sabem lá bem o que é Punk. Punk-Rock é estar num barracão em Camarate com o João Ribas de um lado e do outro um grupo a digladiar-se à facada. Agora aquilo. Que cambada de meninos! Aposto que a esta hora ainda estão a perguntar quem é o João Ribas. Olhem, quem não é eu posso-vos dizer. Não é ninguém que tenha feito um dueto com o Luís Represas.
E o ir à casa de banho. Como é possível entrar ali num WC e cheirar a limpeza? Ir a uma sanita e não estar coberta de grego? Não ter que passar por cima de um gajo a esvair-se em sangue devido a chuto mal dado? Ali com a seringa pendurada num braço a mudar o apelido para Overdose dos Santos. Passar nos corredores e não vir um gajo que mais parece o Marcel Marceau a fazer de mimo com a cara toda branca pela quantidade de coca que afocinhou não é nada.
No meu tempo ir a um concerto de punk-rock significava chegar meio bêbado, sair de rastos e fumar um maço de charros. Metade deles à borla só devido ao facto de se estar naquele nevoeiro. Ali nem se podia fumar. Nem a merda um cigarro. Quanto mais uma gansa a transbordar haxixe e cavalo. Aí ó que nós chegámos.