“No âmago mais profundo da nossa personalidade está uma mentira fundamental, constitutiva e primordial, o proton pseudos, uma construção fantasma através da qual nos empenhamos em esconder a inconsistência da ordem simbólica em que vivemos.”
Slavoj Zizek em “O Invisível Remanescente”
A vida humana é claramente sobrevalorizada. O significado da nossa existência, então, atinge proporções ridículas. Em todo o caso, é compreensível. Se não valorizarmos o nosso papel neste mundo não valorizamos rigorosamente nada.
Apesar da imagem que possamos ter de nós próprios, é inegável a nossa insignificância. Achamo-nos muito importantes, com grandes desígnios e objectivos na vida. Mas sejamos realistas. Alguém acha, de forma séria e racional, que tem uma importância vital para os desígnios do Universo? Se os nossos pais não têm andado a foder que nem coelhos, a Terra giraria à mesma e continuaria a haver fome no mundo. E lá por teres ganho o campeonato inter-escolas na preparatória e teres entrado para o Guinness por participar na maior concentração mundial de Drag Queens isso não faz da tua existência uma prioridade universal.
Apesar dos factos, continuamos em teimar o contrário. Enchemos as nossas vidas com montes de histórias de encantar para podermos justificar o facto de cá andarmos. Onde somos sempre personagens principais, lideres do nosso destino, cheios de diálogos brilhantes. Nunca nos passaria pela cabeça relatar do nosso livro de fábulas algo em que fomos meros figurantes. Se não tivemos um papel interveniente então seremos o brilhante observador que narra com toda a sua inteligência e espírito crítico.
Mas que arrogância! Que manias de merda. Quem é que tu pensas que és? Eu digo-te. Tu és um(a) gajo(a). Nada mais, nada menos. E a tua tão fulcral existência, como dizia Bill Hicks, não passa de uma viagem num parque de diversões. No fundo, não é real. Nós é que achamos que sim. E para melhor nos iludirmos, entretemo-nos a enchê-la de luzes e músicas alegóricas.
No fundo, a nossa pequenez e insignificância são indesmentíveis. Somos muito mais desinteressantes e básicos do que aquilo que achamos. E aquilo que achamos não passa de uma ideia ou uma ideologia para dar corpo e ilusão de profundidade ao básico da situação.
Mas nota. Não estou a dizer que não vales nada. Vales sim e muito. O que te estou a dizer é só para te descontraíres e aproveitares o passeio. Entra a bordo que a montanha russa vai começar mais uma viagem.