Não é tão bonito quando basta dizer o nome de uma pessoa para provocar uma reacção? É que nem é preciso acrescentar mais nada. Chegamos, enchemos o peito e dizemos estas três palavras mágicas. À mesa de um café, matamos a conversa e pomos estranhos a olharem-nos de lado. Em palco teríamos o público na mão. Com um olhar tenebroso, carregado de receio por aquilo que poderia vir a seguir. Uns com os punhos cerrados de raiva e outros mordendo os lábios devido ao incómodo da situação.
Indiferença é a última palavra que pode estar associada à líder do Partido Social Democrata. O que é curioso tendo em conta tratar-se de uma pessoa bastante discreta. Não se apresenta nunca como o centro das atenções. Não se veste de forma exuberante, nem fala alto. Nem sequer de uma forma característica (o que é sempre o sonho de qualquer comediante), nem com qualquer espécie de tique que a destaque. Tem uma aparência frágil, de alguém que quase parece ter dificuldade em locomover-se. No entanto, ninguém se atreve a colocar-se à sua frente.
Seja qual for a opinião que possam ter dela, isso nunca se traduz num sorriso nos lábios. Mas especificamente. Se alguém gostar dela, refere-se à sua pessoa como uma figura de competência e rigor inquestionáveis. Dotada de forte um carácter e de uma verticalidade impares. Mas diz isto sempre com um ar sério. Não é a mesma coisa que dizer que o José Mourinho é o melhor treinador do mundo ou que o António Lobo Antunes é um grande escritor. Aí elogiamos também, mas com um sorriso nos lábios, de admiração e satisfação por aquelas pessoas serem quem são. Quem admira Manuela Ferreira Leite retrata-a como um mal necessário. Alguém que não fará o céu azul, mas que espantará as nuvens negras só com o seu olhar.
Para quem não gosta dela tudo é bem mais òbvio. Se nós somos aquilo que comemos, para os seus antipatizantes, a líder social-democrata cresceu à base de uma dieta de 605 forte e nazis de coentrada. O que me parece bastante infundado pois ela é bem magrinha. Ou então, para irritar ainda mais quem não gosta dela, é daquelas pessoas que pode comer o que quiser que nunca engorda. Seja como for a imagem que fica é a do mais fodido dos 4º cavaleiros do Apocalipse. Alguém que faria Salazar encolher-se e que consideraria a PIDE/DGS como uma cambada de liberais. Um vulto que ao passar as flores apodreçam. A figura por onde todos os contos infantis, que tenham pelo menos uma bruxa má, se tenham inspirado. A filha ilegítima do diabo e mais uma variedade de coisas que agora não me ocorrem porque só escrevi as mais óbvias.
As suas recentes declarações têm vindo a cada vez mais a provocar esta divergência. Quer seja a suspensão da democracia, a regulamentação da comunicação social, a questão do desemprego ucraniano e cabo-verdiano ou as opções que toma em relação aos seus “permanentes” cortes de cabelo.
Independentemente da opinião que se tenha de Manuela Ferreira Leite o importante é que se tem sempre uma opinião. E ao menos isso é de respeitar. A nossa importância na vida só se reflecte pelo impacto que temos nos outros. Se bem, se mal, isso compete a cada um decidir. Mas como tudo na vida, a pior coisa é ser-se indiferente. Não provocar reacção nas pessoas que nos rodeiam é viver sem sentido.