Março de 2006 - Janeiro de 2009

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Dez 08

Quando pensávamos que tínhamos finalmente assente os pés na terra, após os devaneios calóricos do Natal, apercebemo-nos de que a alucinação ainda mal começou. À esquina já espreita a passagem de ano. E com ela vem mais um período de total demência. Se nos últimos dias embarcámos numa maratona de engorda e harmonia familiar, iremos agora num frenesim de festa descontrolada como se fossem os últimos dias da nossa vida.

A passagem de ano é a mais descarada desculpa para se apanhar uma grande bezana. Não sei quem se lembrou disso mas é brilhante. Todos os anos se faz uma festa à escala planetária para assinalar o facto de passarmos de um dia para o outro. É portanto, o extraordinário feito de uma mudança de calendário. E como se altera uma data faz-se uma puta de uma festa. É válido. Podia-se celebrar todas as semanas o facto de ser quarta-feira mas isso seria muito repetitivo e perdia a piada toda.

É que não é mais do que isso. Uma mudança no calendário. Nada muda no primeiro dia do ano. Está tudo na mesma. Quer dizer, se tirarmos o facto de estar tudo de ressaca e acabas-te de acordar e já passam das três da tarde. Ou o facto de estares vestido com umas cuecas de pele de leopardo em vez do habitual pijama com ursinhos. E ao lado a dormir estar um monte de gente que nunca tinhas visto e sentires um assado no baixo-ventre, de um lado e de outro denote-se. Tirando isso, que para muita gente até nem é assim um acordar tão estranho, tirando isso, está tudo na mesma.

Ninguém o irá admitir. Lá está o nosso velho problema em aceitar a realidade das coisas. Por muito que a razão e a experiência em outros anos nos digam, teima-mos em crer que agora tudo irá mudar. E aparecem os clássicos. O deixar de fumar, fazer a tal viagem, mudar de emprego, praticar desporto, acabar o nono ano, levar a vida com menos stress passar mais tempo com quem realmente gostamos e mais um milhão de lugares comuns que todos conhecemos mas que nunca visitámos. Não passa de uma grande punheta à escala global. Uma ilusão planetária. Parece uma foda maravilhosa, mas no fundo, no fundo, é só uma punheta. Passamos uma meia-noite a masturbar-nos mentalmente, bêbados que nem um cacho e com a boca cheia de passas. Com a vã ilusão de que aquilo é real e tem algum significado, embora saibamos que nos estamos a enganar.

Mas por enquanto que se foda. Acreditemos em tudo isso. Nem que seja até ao dia de Reis. Já é qualquer coisa. Aí não há volta a dar. É quando se acabam as caixas de chocolate e se desmontam as decorações de Natal. Aí temos de enfrentar a realidade. Por muito que nos custe temos de voltar do País das Maravilhas e sair pela toca do coelho. Mas até lá, que a música toque bem alto e brindemos aos céus como se estes fossem os últimos dias das nossas vidas.

 

publicado por Velho Jarreta às 20:51

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