Março de 2006 - Janeiro de 2009

28
Ago 08

 

É sempre bom voltar de férias com uma tremenda paz de espírito e encontrar um país em profundo grau de paranóia. Não é nada de novo, nem nada a que não estejamos habituados. A única coisa que muda de mês a mês é a razão de toda esta histeria.

Os crimes sexuais e raptos de crianças que à bem pouco tempo faziam manchete, não são agora mais do que notas de rodapé. Também parecem estar a cair em desuso as rusgas da Asae e a corrupção no futebol.
A conversa de café do momento é a criminalidade violenta. Para um país onde até à pouco tempo a coisa mais agressiva era discussões no meio do trânsito e caralhadas em jogos de bola a situação parece ter-se alterado drasticamente. De tal forma que qualquer western ou filme apocalíptico parecem o mundo do Noody ao pé da ocidental praia lusitana.
Hoje em dia até parece mal roubar o que quer que seja e não espetar um balázio nos cornos de alguém. E já nem isso é suficiente. Para termos destaque no mundo do assalto é fundamental superar sempre a notícia do dia de ontem.
Podemos facilmente prever que a este ritmo quando chegar o Outono, o telejornal da Tvi abrirá da seguinte forma: “A noite passada jovem degolou a mãe, cortou-a aos bocados e meteu-a num tacho com o simples propósito de fazer arroz de putas. O arroz estava saboroso embora um pouco carregado no sal. Era decerto para puxar à pinga. Agora o desporto.”
As bombas de gasolina que pareciam, devido à subida em flecha do preço do petróleo, que iriam ficar ao abandono são agora pontos de referência em termos de animação de Verão. Ao mesmo tempo à quem goste tanto de caixas multibanco que faz questão de as levar para casa.
O que não deixa de ser curioso é o seguinte. Já reparam que as televisões só nos invadem com todo este tipo de notícias depois de terem recusado o crédito aqueles dois brasileiros naquela agência bancária em Lisboa? Já reparam quantas notícias de desastres de aviões ou problemas técnicos têm existido nos últimos tempos? Curiosamente só desde os trágicos acontecimentos em Madrid?
É bastante curioso realmente. E mais questões se podem colocar. Será a nossa paranóia verdadeiramente fundamentada? Será que temos razões para ter medo ao sair à rua? Será que há o real perigo de sermos assaltados cada vez que entramos num carro? Será que podemos apanhar uma intoxicação alimentar ou até mesmo morrer por comermos uma coisa que não seja devidamente embalada, acondicionada e fiscalizada por seis entidades diferentes? Será que sempre que entramos num avião ou numa carruagem de um comboio corremos risco de vida? Terão os nossos filhos a morte certa por brincarem na rua e mexerem na terra? Estarão as casas de banho públicas infestadas com ébola?
Ou será que toda esta paranóia é outra, bem mais profunda e interior?
Não me cabe a mim responder, pois como já vos disse não tenho resposta para nada. Isso cabe-vos a vocês mesmos. Por muito que vos custe a crer são vocês que têm todas as respostas. Especialmente para a vossa própria paranóia.
publicado por Velho Jarreta às 17:30

10
Ago 08

"Se as portas da percepção estivessem limpas, tudo apareceria para o homem tal como é: infinito."

William Blake

 

Todos nós, num momento ou outro da nossa vida, nos interrogámos sobre o mundo à nossa volta. As perguntas são mais que muitas e as respostas são sempre escassas e inconclusivas. Um pouco como ir às Finanças para nos informarmos do que quer que seja.

O descobrir da verdade, a resposta para todas as coisas e o brinquedo dentro do ovo Kinder não são mais que interrogações permanentes da humanidade. Mas como já deu para ver à muito, têm tanto resultado como a busca do Santo Graal. E porquê? Porque não existem. Nem um cálice imaginário nem uma verdade válida e universal.
Podemos passar o resto da vida à procura de algo, a esburacar tudo e mais alguma coisa (O que por vezes não é nada mau. Há coisas por aí muito interessantes para esburacar. Outras nem tanto, mas cada um esburaca aquilo que pode.) Mas obras públicas e construção civil à parte o que importa ver é que parece sempre que não se chega a lado nenhum. Mas será que não se chega mesmo?
Desde miúdo que sempre me fascinaram as viagens de carro à noite. A tranquilidade e a ausência de paisagem. Isto claro se não estiverem a voltar a um domingo para Lisboa num fim-de-semana destes. Nesse caso não há descanso nenhum, apesar se seguir a uma velocidade média de 25 km por hora. Só se vêem é carros e mais carros e luzes e mais luzes, ali a encadear-nos os olhos.
Mas supondo que se está a navegar num mar de tranquilidade, houve um pormenor que sempre me saltou à vista. O facto de tu poderes fazer a mais longa das viagens mesmo só vendo uns míseros metros à tua frente. Podem-se percorrer centenas de quilómetros e a única coisa que se vê é o pouco da estrada que os faróis conseguem iluminar.
A vida também é assim. Apesar das placas que passam ao longo da estrada a indicar-nos as mais variadas direcções e informações, no fundo vamos às cegas, sabendo pouco até avistarmos o lugar. E por muitos avisos que hajam nunca se sabe mesmo até lá estar e nunca se sabe quem se encontrará a meio da noite.
Façam Boa Viagem.
publicado por Velho Jarreta às 14:59

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