Março de 2006 - Janeiro de 2009

27
Fev 08
                         
Li uma vez que se julgássemos a vida de uma pessoa pelas suas fotografias iríamos ficar convencidos de que foi a pessoa mais feliz de sempre e que teve a vida mais fabulosa de todas. E é verdade. Realmente dá-nos essa sensação. Ninguém tira fotos dos maus momentos. Daqueles em que está triste. Daqueles onde nada nos corre bem e onde parece que estamos num beco sem saída.
É raro até, tirar fotos quando se está só. As fotos mais comuns são habitualmente celebrações de grupo. A família no Natal, aquelas férias de Verão, a ida a tal sitio com tal pessoa. Ninguém quer recordar as dez horas que esteve à espera para ser atendido no centro de saúde, enquanto estava com o aspecto de quem acaba de ser atropelado e com a boa disposição e sentido jovial de um membro da Gestapo. Também não quer emoldurar e pôr em cima da lareira os miseráveis extractos do banco que teve em determinados meses (no caso de algumas pessoas em todos) em que não tinha dinheiro nem para mandar cantar um cego. Nem mandar cantar um cego, nem beber um café, nem pôrra nenhuma. Mais dificuldade tenho ainda em imaginar um abraço de grupo com sorrisos de orelha a orelha no funeral de alguém. Ali todos, ao lado uns dos outros, com o fotografo a dizer coisas como “Vá todos juntinhos para aquecer”, “Olhem para a câmara e apontem para o morto”ou “Agora todos com as coroas de flores ao pescoço”.
Quando revivemos o passado folheando um álbum, as imagens que ficam são as dos grandes momentos. Das ocasiões especiais. Coisas boas, fantásticas recordações. É também curioso ver que se compararmos esses momentos Kodak, parece que todas as vidas são exactamente iguais. Todos celebramos as mesmas ocasiões, os mesmos momentos. Há Carnaval e passagens de ano para toda a gente. Todos fomos a sítios marcantes que nos dão grandes recordações. A Torre Eiffel por traz, as pirâmides pela frente. Todos temos grandes familiares e amigos fabulosos. O meu primo da França, eu e o compincha do Jorge, esse grande maluco. Pessoas que fazem com que a vida tenha sentido. Alguém que nos diz que a nossa existência vale a pena, que somos especiais.
Se não acreditam em nada daquilo que tenho estado a dizer vão à vossa gaveta de memórias dar uma vista de olhos. Ou mais simples, vão ao hi5 . Vão ver que tudo aquilo que eu disse se confirma. É um padrão de comportamento.
E o que queremos transmitir ao mundo? É esta a questão que coloco. Qual a imagem que queremos passar de nós próprios e para quê? Uma coisa sabemos à partida, de originais não temos nada. Mas se não é originalidade o nosso objectivo, qual é ele então? A mentir penso eu que não estamos. À partida aquelas memórias fotográficas são factos reais. Mas pondo a mentira de lado, sabemos ao certo que não estamos a contar a verdade toda. E claro que não. Ninguém quer ver um filme em que a maioria das cenas são rotineiras, maçadoras e sem interesse nenhum. No fundo a vida é em grande parte tudo isso. Mas será que é só isso? Ou será algo mais? Sinceramente não sei. Para mim estou-me a cagar . O que me interessa é o futuro pois o passado não tem nada para mim.
publicado por Velho Jarreta às 01:16

20
Fev 08
Recapitulando o assunto da semana passada. Estava-vos a falar do Johnny Depp e fiquei no ponto em que vos referia que ele não mora propriamente num T2 no Cacém com uma família de brasileiros. Mora sim numa pacata vila, no sul de França perto de Saint-Tropez . E tal como tinha referido não mora sozinho.
Ele partilha a habitação (que decerto será um pré-fabricado em caixilharia de alumínio) com a Vanessa Paradis . A Vanessa Paradis , pôrra . Quando eu era puto tinha uma paixão louca por ela. Quem se lembra da musica Joe Le Táxi”? Um videoclip , muito merdoso por sinal, em que ela aparecia a fazer playback em frente a um táxi amarelo, com uma camisola cor de laranja, enquanto passavam umas imagens de um táxi às voltas em Paris e uns vultos a tocar saxofone. Uma produção muito pobrezinha, mas que para a altura era um espectáculo. Bem, se calhar até para a altura já era uma merda . Mas como, por cá, não havia mais nada, era do melhor. Era francês e tudo. Ui ui coisa fina.
Fosse como fosse, lá estava eu, com os meus nove aninhos, ali a olhar para ela, completamente embasbacado. Ela era linda. Longos cabelos loiros, um olhar penetrante e um doce sorriso. Para não falar que era bem mais velha do que eu. Com os seus experientes quinze anos era já uma mulher madura quando comparada comigo. Quer dizer, na altura até um cão que soubesse ir à rua sozinho tinha mais maturidade do que eu.
Mas a vida muda e nós também. Os anos passaram, eu cresci, aprendi a ir à rua sozinho e quando menos esperava ela voltou. Continuava linda, mas agora era uma mulher. Estava crescida. Cantava em inglês, e com um sotaque perfeito. Os anos de liceu tinham-lhe feito muito bem. E não era só no vocabulário que ela tinha evoluído. Agora já não haviam vultos a tocar saxofone nem taxistas parisienses. Agora sim, já parecia um videoclip a sério. Uma mistura de um visual retro hippie chique com a então actual decadência do movimento grunge . Basicamente era também uma merda sem jeito nenhum, mas como ela aparecia toda descascada e a música era porreira, era muito bom.
Mas à parte de tudo isto, devem ser muito felizes. Têm a vida perfeita, com a casa perfeita, com os filhos perfeitos e com a companhia perfeita. Pelo menos todos gostamos de pensar assim, apesar de sabermos que a perfeição não existe. É o conto de fadas da era moderna. É a alegoria da caverna de Platão revista e actualizada com ilustrações a cores e um dvd de extras. E é um produto que vende sempre bem, pois no fundo, mesmo que não se admita, todos procuramos as nossas Vanessas e os nossos Johnnys . Seja de que maneira for.
É que, enquanto alguns recordam os momentos, já bem distantes, em que a realidade e a ficção eram difíceis de distinguir e vivem a vida que vale a pena viver. Outros esperam pacientemente à lareira que o Pai Natal chegue com a recompensa pelo seu vão sacrifício. Se abrissem os olhos iam-se aperceber que ninguém é perfeito mas alguém é perfeito para nós.
publicado por Velho Jarreta às 01:13

13
Fev 08
  Já alguma vez quiserem ser outra pessoa ou viver no lugar de alguém? Eu não, mas mudei de ideias. Não consigo deixar de pensar que a minha vida seria muito mais agradável se eu fosse o Johnny Depp . As vantagens são muitas e mais que evidentes.
Há algumas óbvias. A avultada conta bancária. O facto de ser uma das mais cintilantes estrelas da sétima arte. Todos os benefícios inerentes a este estatuto. São tudo aspectos que nos saltam imediatamente à vista. Mas se formos a ver não se resume a isto, senão vejamos.
Está sempre com estilo. Senão acreditam, perguntem a qualquer mulher ou a um crítico de moda vosso amigo. Aquele gajo podia vestir uma saca de batatas de serapilheira para ir a um casamento, que mesmo assim ficava com melhor aspecto do que qualquer outro convidado.
Mas mais do que ser um ícone de moda, é útil no dia a dia. Imaginem o que é acordar e vestir o que quer que seja e estar sempre bem. Ao final de um ano poupava-se um porradão de tempo e dinheiro. É que se um gajo veste umas calças de fato de treino com sapatinho de sola e meia branca com uma t-shirt a dizer “Ameixoeira – Festa do Porco 2006” e está bem, para quê gastar dinheiro ou perder tempo a escolher roupa? Só fazia a barba, tomava banho e cortava as unhas quando me desse na telha. Para quê me preocupar com ninharias?
Só faz grandes filmes. Isto é outra coisa irritante nele, os outros actores para ganharem dinheiro, volta e meia lá fazem daquelas mega produções de Hollywood que não valem a ponta de um corno mas sempre fazem furor, nem que seja por um mês. Ele não, ele se quer ganhar dinheiro e que um filme seja um sucesso, escolhe um guião e um realizador de jeito e aparece. E pronto está feito. O argumento pode ser o mais alternativo possível, desde que ele lá esteja é vermos famílias conservadoras de classe média a fazerem fila à porta dos cinemas numa noite de estreia.
Toca guitarra e canta. Até já tocou num álbum dos Oásis, ainda por cima quando estes estavam no auge do sucesso. É que nem foi num bar qualquer em que estava tudo bêbado e pediram-lhe para subir ao palco. Nada disso. Foi nos lendários estúdios Abbey Road , onde gravaram os Beatles. Eu dava o cu e oito tostões para ter tido essa experiência. Quer dizer, oito tostões até que podia dispensar, agora o resto tenham lá calma. Aposto é que ninguém pediu ao Johnny Depp nem uma coisa nem outra.
E mais importante que tudo. Gajas. Alguém sonha o que é ter todas as mulheres à face da terra aos teus pés? Claro que não, mas se queres mesmo saber pergunta-lhe a ele que sabe de certeza. O homem faça o que quiser as mulheres não deixam de gostar dele, eu dou-vos um exemplo.
Não conheço nenhuma mulher que não goste do filme “Eduardo Mão De Tesoura”. Para quem não está recordado ele faz o papel de um atrasado mental que estava fechado numa mansão. Parece que foi acabadinho de desenterrar e tem tesouras no lugar de mãos. Mesmo com este curriculum de defeitos, que num gajo normal só lhe serviam para ser internado no Miguel Bombarda, que comentários assistimos por parte do publico feminino? “Ah que querido.” “Olhem para ele tão fofo.” “Mas que sonho de homem”. Querido? Fofo? Sonho de homem? Aquilo é um atrasado mental com a cara pintada de branco. Há cadáveres com melhor aspecto. Enfim, vá-se lá perceber as mulheres.
Outra. Mora numa pacata vila, no sul de França perto de Saint-Tropez . O que é muito mais acolhedor que uma caixa nos subúrbios de Lisboa. E não mora sozinho. Mas sobre isso falo-vos mais para a semana.
publicado por Velho Jarreta às 01:05

06
Fev 08
Recentemente assisti à seguinte conversa:
“Que cena, um pepino.”
“Pepino?!? É uma courgette.”
“Não, desculpa mas é um pepino.”
“Mas tu estás parvo? Não se vê logo que é uma courgette?”
“Tu cala-te que tu nem sabes estrelar um ovo.”
“Lá por não saber nada de culinária não quer dizer que não saiba diferenciar uma courgette de um pepino. E como se está a ver é uma courgette.”
“Mas qual courgette qual quê. É um pepino.”
“Então já que és um gastrónomo de primeira linha diz-me lá a diferença entre um pepino e uma courgette.”
“É simples. Uma courgette é uma courgette e um pepino é um pepino, que por acaso é o que estamos a ver.”
“O quê? Uma courgette?”
“E ele a dar-lhe com a puta da courgette. Já te disse que é um pepino.”
Como era obvio que aquilo não ia chegar a lado nenhum, e até porque já nem os podia ouvir, decidi interromper a conversa.
“Mas o que raio é que interessa se é um pepino ou uma courgette que a gaja está a enfiar na cona ?”
O assunto ficou arrumado, pagámos 10 euros à senhora e mandámo-la de volta ao Cacém. Minto, estávamos a ver um vídeo no portátil. Ou o vídeo foi depois? Não me recordo. Isso também não interessa.
Ao recordar este momento fico a pensar naquela jovem. Não foi a certamente a primeira que transformou o seu mais íntimo numa mercearia, nem será a última, mas desta não me esqueci. Como a poderia esquecer quando vi o seu mundo mais íntimo ser trucidado por um qualquer vegetal. E sem a ajuda de ninguém. Ali, sozinha. Só ela e o mundo, e pronto, o pepino ou courgette ou lá o que era. Um momento decisivo. Luzes, câmara, acção. E lá vai ela, por aí adiante, destemida como quem tem o mundo nas suas mãos e o destino dentro de si. Pois, isto não soa mesmo nada bem. Realmente não tem nada de glorioso ou épico o aproximar de um vegetal a uma vulva. Por muitos eufemismos que se utilize não passa disso.
O que leva estas pessoas a tão extremo estilo de vida? O dinheiro, uma carreira, a satisfação pessoal ou a promoção de produtos biológicos? Ou será que não passa de uma questão de ego? Tipo “Ah estás a ver? Disto não estavas tu à espera. Aposto que não consegues. Tirar medicina qualquer cromo tira, agora tirar nabos da púcara não é para todos.”.
Que orgulho terá um pai numa filha assim. Ou num filho. Porque o talento não é exclusivo de nenhum dos sexos. E como quem não tem cão caça com gato, vai por outro lado. Aposto que também devem existir autênticos artistas do sexo masculino a surpreender-nos com os mais variados objectos. Uma vez vi um indivíduo que tirava pilhas da uretra. E digo pilhas pois eram várias. Não me recordo do número certo mas sei que dava para um comando de televisão. Não é bonito de se ver.
Ah, ainda aí estás a ler isto? Pensei que já estava para aqui sozinho. Foi uma bela reflexão não foi? Eu também achei. Mas se calhar é melhor ficarmos por aqui. Até para a semana.
publicado por Velho Jarreta às 00:04

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