Março de 2006 - Janeiro de 2009

30
Jan 08

               Não há nada pior que estar doente. Quando um gajo está doente não pensa em mais nada, a não ser em ficar bom. O mundo altera-se, as prioridades são outras. De um momento para o outro as próximas contratações do Benfica e o decote da nossa colega do departamento comercial deixam de ser os pensamentos fulcrais da nossa existência. Tudo se torna uma merda, desde o tempo ao estado da Nação, passando por aquilo que dá na TV até ao dinheiro na nossa carteira. Pronto foi mal explicado, o que estava mal ainda fica pior, digamos assim.

Ficamos frágeis, sem vontade para nada. Claro que estou a falar de nós homens. Não há coisa mais maricas no mundo que um homem doente. Nós não temos a capacidade para lidar e ultrapassar uma doença, é-nos profundamente perturbador. Para as mulheres não. Para elas, é uma forma de estar na vida. A mulher nasceu doente, para estar sempre com mazelas, físicas ou emocionais, que a impedem de levar uma vida descansada.

Elas sabem o nome de todo o tipo de medicamentos e mézinhas possíveis e imaginárias. Logo, devido à experiência de vida e ao elevado conhecimento técnico, quando nós ficamos doentes, elas têm a capacidade de nos fazer imediatamente uma consulta. Sem filas de espera e taxas moderadoras.

O prognóstico é que é sempre o mesmo “Eu bem te avisei!”. Não importa o que nós possamos ter. Estamos constipados “Eu bem te avisei para te agasalhares!”. Dói-nos a cabeça “Eu bem te avisei para não saíres com os teus amigos. Esses bêbados!”. Partimos um braço “ Eu bem te avisei para teres cuidado!” “Mas querida, fui atropelado por um carro que vinha em contra mão enquanto ajudava um idoso a atravessar numa passadeira” “Eu bem te avisei para não te meteres com estranhos!”. Seja lá o que for, elas têm sempre resposta e é invariavelmente a mesma.

Passando esta parte da discussão começa uma nova. O tratamento. Ao estarmos sentados no sofá com um ar deprimido, lá chega uma mulher que pela abordagem nos parece ser a nossa mãe, as nossas avós e as nossas tias numa só. Nota: Observando melhor apercebemo-nos que afinal é a nossa mulher

Ela vai dizer-nos como nos devemos comportar e agir para deixarmos aquele estado vegetativo. Começa sempre por nos obrigar a tomar uma série de comprimidos com nomes impronunciáveis, acompanhados de um chá de flores da Mongólia. Que faz bem a tudo e sabe tão bem como excremento de búfalo.

E aí de nós que nos neguemos a tal. Aí, a nossa adorável amada dirige-se a nós com um olhar de fúria, pronunciando um palavreado, de tal maneira poderoso, que fará parecer o Hitler a discursar em Nuremberga um coninhas. Em todo esse palavreado, enquanto nos encolhemos no sofá, podemos ouvir bem lá no fundo “É para teu bem!” “Porque é que eu me preocupo contigo!” “Depois não me venhas pedir mimos!” “És uma merda!” “O que fiz eu para merecer este inferno?” e o clássico “Eu bem te avisei!”.

Mas brincadeiras à parte ainda bem que elas existem porque nós sem elas não passamos de uns atrasos de vida.   

publicado por Velho Jarreta às 00:31

23
Jan 08
Nos últimos tempos uma sigla tornou-se sinónimo de repressão, impunidade e legislações feitas por atrasados mentais. Não, não estou a falar BCP mas sim da ASAE . Esta entidade é provavelmente a primeira organização estatal que demonstra estar activa, fornecida de todos os meios, na máxima eficiência e a atingir todos os objectivos desejados. O que basicamente consiste numa cambada de grunhos andarem de porta em porta, para verem se tudo está como lhes apetece, sempre com a esperança de que se não poderem multar ou prender ninguém de momento, ao menos que essa pessoa lhes dê informações valiosas para assim poderem continuar a sua cruzada.
Para os mais novos isto não tem nada de novo. Em tempos passados existiu neste país uma organização, também ela estatal, que funcionava de forma semelhante e que também tinha uma sigla. Era a PIDE. Foi encerrada, vai fazer agora 34 anos, devido a uma reestruturação de serviços.  
Terá esta comparação sentido? Torne-mos esta questão mais interessante. Num duelo de super-heróis quem sairia vencedor? No caso destas duas famílias mafiosas disputarem um mundo imaginário, sei lá… tipo Portugal, qual delas provaria ser a mais forte. Qual delas passaria a controlar as ruas deste bairro?
Para respondermos a esta e outras questões, nada como comparar e avaliar o desempenho de cada uma das famílias nos seus vários campos de acção.
  • Relação com forças politicas. A Pide proibiu o Partido Comunista de todo o tipo actividades em Portugal. A Asae proibiu a Odete Santos de fumar num café em Setúbal. Apesar de também ser uma proibição não deixa de ser muito mais fraquinha. Um ponto para a Pide .
  • Visibilidade. A Pide actuava de forma discreta e dissimulada. A Asae leva a comunicação social toda atrás para onde quer que vá fazendo lembrar uma festa da Caras ou da Nova Gente. Pelo arrojo e descaramento a Asae abre o seu marcador.
  • Estilo e apresentação. A Pide usava fatos pretos e gabardinas. É um pouco tristonho, sem dúvida, mas sempre fica melhor que andar de colete e com um gorro a tapar a cara. 2-1 Pide .
  • Raio de acção. A Pide actuava em Portugal continental, ilhas adjacentes e províncias ultramarinas. Vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana. A Asae vai no princípio de cada mês à feira do relógio. Ponto para a Pide .   
  • Métodos de extorsão. A Pide espancava, torturava, matava e outras coisas terminadas em ava ”. Disponha de prisões politicas e expulsava portugueses do seu próprio país. A Asae passa multas. Sem comentários.
  • Tipo de actividades. A Pide fiscalizava actividades subversivas, impedindo as pessoas de falar e agir contra a autoridade do Estado. A Asae fiscaliza “a segurança alimentar, o turismo e as práticas comerciais, a segurança de produtos e instalações, a propriedade intelectual e propriedade industrial”. Ou seja, tudo e mais alguma coisa. A Asae recupera.
  • Fonte de inspiração. A Pide inspirou-se em várias polícias já existentes, desde a Scotland Yard à Gestapo. Não há registo no mundo de uma polícia que tenha como principais funções fiscalizar matanças de porcos e garantir que não se fuma em bares e tascas. Um ponto para a Asae pela originalidade.
  • Controlo do jogo, prostituição e tráfico de droga. No tempo da Pide quase que não havia droga, a prostituição era legal e os jogos a dinheiro existentes resumiam-se à malha e à lerpa. A Asae faz grandes apreensões de droga e rapta tudo o que é mulheres que não tenham os papéis em dia. Ainda controla de tal maneira os casinos que decidiu que estes são os únicos sítios fechados em que se pode fumar à vontade. Isto só porque o padrinho da sua família gosta muito de cigarrilhas. Ah ganda Asae .
Bom, parece que foi inconclusivo. Temos um empate com 4 pontos para cada lado. Eu fiz o possível para ter uma resposta mas mais uma vez não cheguei a lado nenhum. Pensei vocês e digam-me o que acham.
publicado por Velho Jarreta às 00:31

16
Jan 08

                                      A minha avó, que Deus tem, era muito religiosa. Ouvia regularmente, ao final da tarde, o terço na rádio Renascença. Não sei se foi isso que a matou, mas aposto que deve ter contribuído.
Felizmente eu não tinha o infortúnio de passar por tal tortura pois à hora em que o programa ia para o ar já a minha mãe me tinha vindo buscar. Mas lá havia um dia ou outro em que, enquanto aguardava, lá gramava com aquilo. Em barulho de fundo, graças a Deus. É que a minha avó tinha o bom senso de ir para a marquise com a telefonia enquanto eu ficava na sala a mamar a Alice No País Das Maravilhas. A mamar salvo seja, que a Alice para além de ser um desenho animado é menor de idade.
O terço na rádio soava-me a um relato de futebol, desprovido de qualquer espécie de emoção e ditado num tom monocórdico. Tipo Estrela da Amadora – Naval para a Taça da Liga. Tirando o facto de os intervenientes não se chamarem Emerson e Dorivalto , nunca notei grandes diferenças. E o pior é que havia jogo, todos os dias, à mesma hora, com os mesmos lances, da mesma maneira e da mesma forma.
E do que é que consistia aquela lenga-lenga ? Já nem me lembro, mas só podia ser algo importante. É que algo que dê em todo o santíssimo dia ou é fundamental para a vida das pessoas ou é “As Tardes Da Júlia”. É que um espaço privilegiado daqueles ao menos que incluísse a meio informações úteis. Como as farmácias de serviço ou a chave do Euromilhões. Quem diz isto, diz a metrologia. Reduzia-se para metade o número de ave-marias e pais-nossos, encaixava-se as mínimas e máximas de norte a sul e o estado do mar, e ninguém saia prejudicado
Uma grande questão é onde será gravado o programa? De algum sítio aquilo tem de vir. Não brota da terra. Já vi plantações de muita coisa, mas de emissões radiofónicas é que não. Será emitido da paróquia de Cucujães através de um telemóvel, ou será um elaborado trabalho de estúdio com locutores experientes e complexos efeitos sonoros?
Será em directo? Será uma gravação? Bem que podia ser, não me parece que hajam grandes alterações na estrutura da oração de um dia para o outro. O terço de quarta-feira não deve ser muito diferente do de quinta-feira, penso eu. Provavelmente estamos a ouvir todos os dias uma gravação de 1961 e ninguém dá por isso.
E quem são as pessoas que fazem a locução do terço? A quem cabe aquela árdua tarefa? Não é qualquer um que o faz. Só alguém profundamente aborrecido e entediante terá capacidade técnica para debitar toda aquela informação daquela maneira.
São muitas as questões e muito poucas as respostas. Mas não pensem que tenho algo contra a religião e a sua respectiva prática. Acho é que àquela hora mais vale ouvir a “Prova Oral” na Antena 3 ou o Pedro Ramos na Radar. É sempre diferente e ao menos vamos jantar com uma vibração mais positiva. Mas se querem ouvir o terço quem sou eu para vos impedir?

publicado por Velho Jarreta às 01:01

09
Jan 08
É um facto, e, como é sabido, contra factos não há argumentos. Não é um daqueles assuntos onde se justifique divergências de qualquer ordem. Não deverão existir segundas opiniões, terceiras vias ou quartas-feiras. Não se aplicam virgulas ou “mas”.
Para além de ser um raciocínio certo, é também rápido e universal. Qualquer indivíduo assimila e compreende esta informação de forma imediata. Não é preciso saber ler nem escrever. Nem sequer concluir a quarta classe e muito menos tirar um curso superior. Ter um QI de 200 ou ser assinante do 24 Horas garante a mesma resposta. Tanto um macho ao nível do forcado Fernando ou alguém que considere os Culture Club a melhor banda de todos os tempos sabem exactamente a mesma coisa. O quê? Que a Sónia Araújo é muito boa.
Pois é. É boa, mas mesmo boa, daquele boa que não deixa margem para dúvidas. Um boa com b grande, ou melhor, com B grande. Boa mesmo. Nem vale a pena entrar em pormenores, toda a gente entende e basta só dizer que ela é boa que a discussão fica terminada.
E não é de ontem. Ela é boa à montes de tempo. Nem sei à quantos anos temos o gosto de a ver nas manhãs da RTP. Seja a entrevistar o presidente da associação cultural e recreativa de Vale da Burra, os membros da confraria do espadarte ou a apresentar o último álbum do Clemente, ela lá estava, está e estará ao seu melhor nível (podres de boa, entenda-se).
Ela é boa à tanto tempo que a minha geração começou nas lides da masturbação apreciando esta obra-prima. A ver a Praça da Alegria, sempre a falar com a televisão pedindo ao Goucha, de forma mais ou menos educada, para sair da frente que estava a tapar a vista. Ela não foi a única, é óbvio. Seria profundamente injusto esquecer o contributo de Alexandra Lencastre na Rua Sésamo e o desenvolvimento hormonal de todas as nossas colegas de escola. Mas o que conta é que ela lá estava, simpática, a sorrir para nós. Como que a agradecer pela nossa dedicação e admiração.
E agora até dança, tão bem que até ganha concursos. Claro que ganha, ela é tão boa. Eu não percebo nada de dança e votava nela. Com que critérios? Um e só um e chega. A mulher é boa, todos os dias. Acho eu que chega. 
Não me venham é com aquela conversa de que há montes de gajas mais boas do que ela pelo mundo fora. E que aquela tipa lá do meu serviço é ainda melhor e tem mais mamas. Ninguém está a dizer o contrário. E como dizia a D. Teresa Guilherme, isso agora não interessa nada. O que interessa é que aSónia Araújo é muito boa. E é só isso que eu afirmo. Nem mais nem menos. Eu não estou a dizer que ela é o ser mais belo que alguma vez palmilhou estas ruas ou a reencarnação da Virgem Maria de visual actualizado. O que eu estou a dizer é que ela é boa. E pronto, já disse.

 

publicado por Velho Jarreta às 00:34

02
Jan 08
O acto de resmungar é tão lusitano como comer bacalhau, gostar de bola ou vestir fato de treino ao domingo. E é único no mundo. Os outros indignam-se, discutem, arreliam-se, revoltam-se, queixam-se e exaltam-se. Nós resmungamos. Demarca-se de todos os outros porque não envolve qualquer tipo de consequências. O verdadeiro resmungão resmunga, mas não faz rigorosamente mais nada, fica-se sempre por aí. Devemos resmungar mas jamais fazer algo para mudar as coisas. Senão deixa de ser resmungar.
O alvo preferencial da avalanche diária da resmunguice é quem quer que tenha poder. Seja lá quem for que mande. Desde o director de núcleo até ao primeiro-ministro. Percorrendo toda a cadeira hierárquica, todos sabemos que nenhum presta, que são detentores de toda a culpa e que se não fossem eles é que isto ia para a frente. Como poderia ser de outra forma? Até eles próprios resmungam e se não é com quem está acima é com quem está abaixo ou de lado. Ou em que sitio for mas que resmungam resmungam.
Um gajo que não resmungue com tudo e com todos só pode ser um pánhonha. Um fraco sem qualquer relevância para o futuro da humanidade. Temos de resmungar. Nem que seja porque se toda a gente resmunga também nós temos esse direito. Direito e, já agora obrigação. Adaptando Descartes, se resmungo, logo existo. Mas será mesmo assim? Pensando bem, talvez não, muito antes pelo contrário. Estamos sim a negar a nossa existência. Porque existir implica consequências e acções e resmungar é tudo menos isso.
Ao resmungar estamos a atribuir toda a responsabilidade aos outros, nunca a nós próprios. Não fazemos nada e porquê? Porque cá no fundo sabemos que também temos culpas no cartório. Daí que resmungar, embora engane bem, é tudo menos ir para a frente. É sim acomodarmo-nos e aceitar a vida como ela é, ou melhor como achamos que é.
Mas resmunguem, só de vez em quando, mas façam-no. Faz parte da vida, especialmente da nossa. É como beber uns copos ou ter uma noite mal dormida. Não leva a lado nenhum, mas por vezes sabe bem. Não temos de mudar o mundo todos os dias, e muito provavelmente não o teremos de mudar nunca, ele muda sozinho. O mundo já é crescido que chegue para mudar quando bem lhe apetecer. Resmunguem como eu acabei de resmungar que sabe sempre bem. Não façam é disso modo de vida.
E ai de alguém que diga que não serve para nada. Claro que serve, é libertador. E é melhor que qualquer droga pois não dá efeitos secundários e pode ser tomado as vezes que se quiser que não vicia. É natural, parece vindo de uma herdade de agricultura biológica. E só faz sentido na companhia de outros e só por isso vale muito. É que querer resmungar e não ter ninguém para nos ouvir é o mais triste de tudo.
 

publicado por Velho Jarreta às 22:19

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