A pior coisa que uma mulher nos pode chamar é amigo. Se formos ver ao dicionário este substantivo masculino é definido por "Pessoa a quem se está ligado por uma afeição recíproca". É falso, completamente falso. Não há reciprocidade nenhuma, ambos vêem e acham do outro coisas completamente diferentes. E aposto que existe uma ligação tão forte como um quadro colado à parede com cuspo. O que deveria vir no dicionário, quando nos referimos a esta situação em particular, deveria ser "Tipo que jamais terá sexo comigo e que, apesar de não ser má pessoa, desejo-o tanto como uma bolacha de água e sal, já meio mole, após uma farta refeição".
Após ter sido utilizada esta palavra a mulher desresponsabiliza-se totalmente de qualquer sinal de afectividade para com o homem. Ele deixa de ser amante, amigo, gajo porreiro ou outra coisa qualquer de jeito. Ele entra num espaço mais distante que a 5ª dimensão ou Trás-os-Montes, pois ele passou a ser, para ela, um amigo. Mas ela não é amiga dele, nada disso, alias ninguém aqui está a falar de amizade, estamos sim a falar de amigos.
Se uma mulher for, verdadeiramente, nossa amiga jamais utilizará tal termo, nem que seja por uma questão de respeito. Primeiro não precisa, pois tem um certo à vontade connosco e não está com aquele receio constante que a gente lhe salte para cima como um cão com o cio. Segundo, já alguma vez se viraram para um grande amigo e o trataram por este termo? Claro que não. Para chamar as pessoas que mais gostamos utilizam-se termos como estúpido, cabra, besta, energume , animal e outros mimos similares. Se tratamos alguém com uma extrema simpatia ou é porque não temos à vontade com essa pessoa ou então estamos a ser hipócritas, Todos sabemos isto, é senso comum.
É bastante curiosa esta utilização, altamente subversiva, de uma palavra que define um dos sentimentos mais fortes e duradouros que a raça humana tem memória, de modo a destorce-la do seu significado original. Demonstra aquilo que de mais falso temos, permite-nos esconder aquilo que sentimos e dar uma imagem imaculada perante os outros. Dá-nos um modo de nos desculparmos de qualquer eventual consequência dos nossos actos, e acima de tudo permite-nos seguir em frente. Sem sabermos bem para onde, mas em frente que para trás mija a burra.