Sempre tive uma fraca memória mas há episódios que nos ficam gravados para sempre. Era eu novo, muito mais novo, e andava na catequese (sim, o herege que hoje sou já andou na catequese), e havia algo que me diziam que não fazia sentido nenhum, entre outras tantas, mas pronto. Era aquela velha justificação da morte de Jesus, "Ele morreu na cruz por nós". O quê? Mas que raio! E perguntava eu aos catequistas o que queria aquilo dizer. A resposta era sempre vaga, do género "Então…sacrificou-se por nós…pois tá claro." ou pior "Mas que pergunta mais parva, vais mas é ali pó canto e reza meia-duzia de Pais Nossos que é para não te armares em esperto.". Visto que me apercebi que por ali não ia ter resposta nenhuma de jeito decidi perguntar os meu pai. A resposta que ele me deu iria alterar completamente a minha visão do mundo, embora eu só me apercebesse disso anos mais tarde. Ele virou-se para mim e disse: "Meu filho, se chegares aos 40 anos e não souberes a resposta não fiques frustrado, porque eu hoje ainda não sei e isso não me chateia nada". Como é obvio na altura fiquei na mesma.
Questões religiosas à parte, porque não é disso que estou no fundo a falar, hoje em dia entendo na sua plenitude aquilo que ele me quis dizer. Há determinadas coisas na vida que são assim porque sim, e não são porque não são. Se têm resposta ou não pouco importa, aquilo que nos deve tirar o sono e dar dores de cabeça devem ser questões verdadeiramente importantes que tenham uma forte influência no nosso futuro, como "será que ela me quer?", "como vou arranjar emprego?", "como é que eu vou comprar uma casa?" ou "como é que o Koeman ainda está a treinar o Benfica?". É importante simplificar a vida e aproveitar ao máximo o facto de por cá andarmos.
Quem matou o Kenedy? Sei lá, eu não fui. Há vida depois da morte? Sei lá, logo vejo quando lá chegar. Porque é que amanhã tenho de acordar cedo? Porque tem de ser, e agora vai-te deitar que o teu mal é sono.