Março de 2006 - Janeiro de 2009

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Out 08

Recentemente passei pela mais entediante experiência que um homem pode passar. Não, não fui tratar o que quer que seja às Finanças. Também não fui à DGV renovar a carta de condução. Nem fui às compras com uma mulher escolher a roupa inteira para o próximo Inverno. Nem passei pelo infortúnio de ir ao cinema e em vez de assistir ao último filme do Oliver Stone ter de ir ver a mais recente obra-prima da sétima arte em que entre a Jennifer Lopez ou a Madona. A situação em que me vi metido foi bem pior. Eu fui a um concerto da Mafalda Veiga.

Antes de mais quero deixar aqui bem claro que não tenho nada contra a senhora. Nunca a conheci pessoalmente e até aposto que é uma boa moçoila. As minhas razões são outras. Mas nada como descrever o ambiente em que me vi metido para que melhor se perceba.

Ao chegar ao recinto do evento deparei-me com um público maioritariamente feminino. Algo nada habitual nos concertos a que costumo ir mas pareceu-me muito bem. Os únicos homens presentes aparentavam ser namorados ou amigos próximos de quem realmente ia ver o espectáculo.

Nunca a expressão facial entre os dois sexos me pareceu tão distinta. Dum lado o ar concentrado e deliciado do público feminino enquanto se balouçavam suavemente ao som da música. Do outro lado o ar de tédio a roçar o desespero por parte de nós homens. Olhamos uns para os outros e sem soltar uma palavra, em plena acto de telepatia, compartilhamos aquele sentimento de quem preferia estar noutro lado qualquer menos ali. Recordamos com saudade os bons tempos que passámos em filas de trânsito ou fechados no escritório a olhar para um molho de papelada iluminada pela luz do monitor.

Nunca senti tanta falta dos serões com as novelas da TVI. Ao menos aí tinha o sofá e podia observar aqueles duelos entre a Rita Pereira e a Mariana Monteiro para ver quem é a mais boa. E por falar em gajas, por esta altura já se tinham afastado. Nós homens tínhamos formado o nosso próprio grupo onde se debatia o estado do tempo e música a sério. Tudo isto sempre de costas para o palco.

Prontamente alguém se apercebeu da existência de um bar. Algo que considero indispensável numa situação destas. Felizmente serviam bebidas alcoólicas. Tendo em conta que o ambiente se assemelhava a uma sala de espera de um ginecologista, cheguei a ponderar que só servissem águas de sabores e chás de camomila. No entanto de nada serviu para despertar as almas. De acordo com estudos recentes, qualquer espécie de estimulante perde o seu efeito ao som da Mafalda Veiga. Ainda não se sabe a origem de tal fenómeno mas confirmo os resultados.

Passada uma hora de pura pasmaceira continua a soar lá no fundo aquela agradável música de elevador. É que ficamos com a sensação de que estamos a ouvir a mesma canção desde que chegámos. Que o tempo e espaço pararam e que estamos ali desde o Paleolítico.

Para piorar o estado de espírito um nervoso miudinho percorria-me o corpo. Estive sempre com o pânico de que o João Pedro Pais entrasse em palco e agonizasse a situação. É que aí perdia a cabeça e não me responsabilizava pelos meus actos. Um comprimido para dormir é uma coisa, uma dose de sedativos disfarçados de m&m’s é outra.

Passado aquilo que pareceu uma eternidade, uma salva de palmas quebra-me da letargia. Sinto os músculos a desentorpecer e desperto lentamente. Devagarinho, pois para mim não há nada pior que acordar à pressa. O concerto tinha acabado. Agora somos nós homens que sorrimos é hora de ir. Sobrevivemos a mais uma dura batalha. A guerra? Essa está perdida desde sempre.

 

 

publicado por Velho Jarreta às 16:41

4 comentários:
Pois é.. E também foi uma rapariga, que por sinal adora Mafalda Veiga, que lembrou os 3 panhonhas de ir até ao Bairro Alto no fim do concerto.. Vale mais ser rapariga, gostar de Mafalda Veiga e ter ideias fantásticas do que ser rapaz, não gostar de Mafalda Veiga e não pensar.. :P
Fiii a 31 de Outubro de 2008 às 18:53

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